Na última época poucos minutos foram suficientes para nos tirarem tudo. Para perder um campeonato e uma Liga Europa. O Benfica respirava futebol. Mas ainda assim aqueles malditos minutos a mais por duas vezes deixaram milhões de Benfiquistas em lagrimas. Fizeram parar corações. Mas os Benfiquistas não baixam os braços. Podem gritar, criticar ou dizer mal. Mas por dentro daquelas veias corre o Benfica, cada coração bate em uníssono e ouve-se "Benfica"! E respirar, respira-se Benfica...
Esta época o Benfica continua a mostrar o que é o futebol. Joga e ganha os jogos dentro de campo com raça. Com jogadores que sentem o peso e orgulho de envergar aquela camisola. Jogadores que não esquecem um colega lesionado e que jogam com o respeito pela braçadeira negra que usam no braço junto ao coração. Atletas que contam com o amor e apoio dos milhões de adeptos que jogo após jogo vêem a sua equipa ganhar.
Só o Benfica tem direito a vencer este título. Só o Benfica honrou o símbolo de cada camisola mostrando que o futebol ocorre entre 22 jogadores no manto verde e dentro das quatro linhas brancas.
E hoje mais do que nunca milhões de Benfiquistas deitam-se ansiosos que as horas passem, com tanta tensão em cada músculo que se fará difícil adormecer. Hoje contar carneiros só se forem vermelhos. Hoje que nos desculpe quem não recebe a atenção que deseja. Hoje não somos apenas pessoas num normal dia de páscoa. Que se foda lá o fato e a camisa ou o vestido, hoje é dia de usar a camisola e cachecol do Glorioso. Este ano a páscoa também se faz de história, mas história de Portugal, história do Benfica.
Hoje é dia em que homens de barba rija se vergam aos pés daqueles que em campo vão deixar a pele se for preciso. Se hoje as lagrimas nos caírem que sejam de alegria, que seja a voz dos milhões de Benfiquistas a gritar "Campeão". Que seja o dia em que honramos a memória do passado, o dia em que lembramos o Eusébio e o Coluna e todos aqueles que escreveram a história do Benfica. Que hoje seja mais uma página nesse magnifico livro. Que perdure na memória do mais novo ao mais velho.
Hoje é o dia em que esperamos ser campeões. Hoje e sempre: Benfica!
"Posso morrer de cancro, mas o cancro nunca me matará. Se tenho dores, tomo compridos. Continuo a trabalhar, a dar aulas, a viajar, com vida social. Há dias difíceis, pós-químio, em que não consigo levantar-me. A maior parte das pessoas não sabe que estou doente." (Manuel Forjaz)
Esta terça-feira, 25 de fevereiro, pouco mais de um mês passado da morte de Eusébio da Silva Ferreira, morreu mais uma lenda do Benfica. Mário Esteves Coluna morreu hoje, aos 78 anos (1935-2014).
O "médio cerebral" alinhou de àguia ao peito de 1954/55 até 1969/70, onde marcou 150 golos com a camisola encarnada o que lhe valeu 21 títulos oficiais. Foi promovido a capitão do Benfica em 1963/64 e representou a seleção nacional em 57 ocasiões apontando oito golos, sendo um dos "magriços" que levou Portugal ao terceiro posto em Inglaterra'66. O "monstro sagrado" deixou o futebol em 1971/72.
Hoje é dia de lhe dizermos "adeus" como dissemos a Eusébio. Domingo é dia de honrar dentro de campo a memória deste senhor. Em 10 jornadas será dia de erguer o título nacional em homenagem a duas lendas que partiram.
No dia 25 de Janeiro em que eu tinha 13 anos o Benfica jogou em Guimarães.
Na altura não tinha internet, televisão só sinal aberto e na sala, a minha mãe queria ver a novela (livre-se aquele que tentar interromper tão sagrado momento). Fui então para o meu quarto, deitei-me na cama, mesmo por baixo do quadro que ostenta o glorioso simbolo do SLB, liguei o rádio - já sintonizado no canal onde se relatava o futebol - e dediquei toda a atenção a roer as unhas.
Lembro-me que gostava do treinador do Benfica, o Camacho, podiamos ser Campeões nesse ano! No banco contrário sentava-se Jorge Jesus, mas esse não interessava, não era da minha equipa!
O jogo era de nervos, o Benfica não marcava golos e eu já não tinha mais unhas para roer. Não havia posição de conforto para mim. O quarto era já pequeno para tão grande carga nervosa que me assolava. E então, aos 90 minutos Fernando Aguiar marcou. O Benfica marcou! Não me contive e gritei o golo, mas consegui conter um "caralho" de raiva, não fosse a minha mãe mandar-me confessar ou pior...desligar-me o rádio.
O momento seguinte foi das imagens mais tristes que guardo. Fehér. Miki Fehér caiu inanimado no relvado, o relatador não conseguia perceber o que se passava, estava incrédulo com o que via. Percebi que era realmente algo de grave quando ouvi algo sobre o Tiago cair de joelhos no relvado a chorar. Os médicos tentavam reanimar o jogador que teimava em não acordar, havia problemas com a entrada da ambulância no relvado e, sem o menor sinal de fraqueza as minhas lagrimas escorriam face abaixo.
O jogo terminou, mas para a equipa e para os milhões de benfiquistas começava um pior, jogo esse em que fomos duramente derrotados, arriscaria até a falar em goleada. Pelo menos para mim custou mais do que qualquer derrota em campo.
Fiquei colado à televisão até ao anúncio que mais temia: a morte de Fehér. Instintivamente peguei numa faixa negra e coloquei em forma de cachecol por cima do quadro, não é que fosse alterar alguma coisa. Foi apenas a minha homenagem. Foi a minha forma de dizer "adeus". De dizer "obrigado".