Já tardava em chegar uma moda nova ao Facebook. Mas eis que chegou e em força!
Agora as pessoas veem-se em todo lado, é na biblioteca, é no comboio, no autocarro. Depois vão contar as histórias ou estórias para toda a gente ler e acreditar que o amor é um conto de fadas que acontece como nos romances de Nicholas Sparks e que é muito triste quando aqueles olhares ardentes e carinhosos se cruzaram numa viagem de autocarro, comboio, metro ou na biblioteca, não terminam num romance ardente e lascivo.
É normal as pessoas verem-se nos autocarros ou comboios, as viagens demoram muitas horas e nem sempre há como matar esse tempo e há certamente alguém que nos prende um pouco mais a atenção, no big deal! Então quando se está na biblioteca a estudar várias horas seguidas até o olhar da funcionária que arruma os livros há 20 anos é uma alegria.
Não é por se trocar uns olhares num metro apinhado de gente que vai nascer dali um romance eterno e cheio de corações, nunca pensaram que a pessoa pode não poder olhar para outro lado? Às vezes vão pessoas mal cheirosas no metro!
No meio de tanta gente que se viu, o que me faz mais sentido mesmo é o Vi-te no banco traseiro do meu carro. Haverá certamente mais amores que começaram nesse recondito espaço do que no autocarro, comboio ou bibliotecas...
Todos temos momentos - e eu confesso que se me apontam alguns - em que podemos justificar o velho dito: "perdeste uma bela oportunidade de estar calado". Mas ao comentário mais estúpido se, por vezes, se lhe trocar um ponto pode fazer-se filosofia.
Ora, tudo aconteceu durante a minha estadia em Viseu, e numa sala de cinema. Relendo agora a frase anterior parece o ponto de partida para um relato que pode suscitar interpretações menos moralistas, (não que eu saiba o que se faz numa sala de cinema, às escuras para além de se ver um filme!).
Meia hora depois de iniciada a película já não havia pipocas, e a culpa não se devia à magnifica obra de arte que era o filme, muito até pelo contrário, mas sim porque eu comprei o balde mais pequeno. Estava em dieta, ou provavelmente tinha enfardado uma francesinha ao jantar.
Num plano aproximado em que expressão facial do Tom Hanks ocupava a grande tela, a legenda apareceu uns segundos antes do ator proferir a ditosa palavra e, numa súbita atenção tentei aquilo que - creio eu - já todos tentámos fazer, depois de saber em português acompanhei o ator agora na lingua de sua majestade. A letras brancas no ecrã estava apenas uma palavra "talvez" e eu atirei um calmo "maybe" enquanto que pelas colunas se ouviu um nervoso "perhaps".
Confesso que no momento, e peço desde já perdão a todas as professoras que teimaram em ensinar-me inglês, a palavra dita e a palavra escrita não tinham, na minha cabeça, o mesmo significado e numa estupidificação do vocábulo atirei: "Mas perhaps não são ervilhas?".
Tamanha barbaridade valeu a quem estava ao meu lado uma boa dose de riso. Já a mim só me rendeu uma história parva e uma reclamação da senhora à minha frente que, ao que parece estava a apreciar o filme. Certamente não entendia inglês!