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Perhaps não são ervilhas!

Se tudo na vida fosse perfeito não havia talvez. E perhaps eram ervilhas...

Déjà vu...

por António, em 18.02.14

Todos os dias volto o vazio olhar para a janela que ilumina a minha manhã, os raios de luz penetram lenta e dolorosamente o meu cérebro, e ouço. Começo a ouvir as gotas de chuva a tilintar nos vidros da minha janela, som que me acorda para a decadência de mais um dia. Subtraindo-me ao estado onde os sonhos, por alguma razão biológica, não tem cor atira-me para a imensidão de mais um dia cinzento.

Para lá da fina camada transparente que me separa do mundo, as pessoas movimentam-se como pequenos peões como se tudo não passasse de um enorme tabuleiro de mesa. Movidas à mercê um uma mão invisível enfrentam a dura rotina diária munidas de um contagiante sorriso. Parecem felizes. Invejo-lhes por isso a capacidade de camuflar toda a mágoa reprimida e os sonhos desfeitos atrás de um tão simples e inocente gesto.

Consigo sorrir então, não por mim mas por quem mais forte do que eu consegue devolver a cor a tão tenebroso dia, por quem aceita o diário desfazendo-se de ilusões.

Mas o sorriso é efémero e a revolta chega em força. Começa então a saudade. Saudade dos tempos em que nada nos podia vencer, saudade dos tempos em que se podia sonhar, ter ilusões de grandeza, saudade dos dias preenchidos de risos sinceros. Apenas saudade.

Pois, saudade, que por ser palavra só à língua portuguesa pertence, que por ser sentimento, tão bem me define.

É uma forma de prostituição...a social!

por António, em 05.02.14

 (imagem retirada aqui)

O facebook fez (ou faz) 10 anos. Começou com uma ideia de adolescentes com as hormonas em desentendimento e tornou-se numa das empresas mais lucrativas do mundo, sendo que o seu fundador possui uma fortuna estimada em mais de 19 mil milhões de dolares (nem ele deve saber quantos zeros isso tem). Já em utilizadores serão mais de mil milhões, e maioritariamente mulheres entre os 25 e os 34 anos quem o usa - já eu faço parte da exceção, já que sou homem e estou abaixo dos 25 anos -, em Portugal somos à volta de 4,7 millhões, quase 50% do total da população e 77% daqueles que possuem ligação à internet. 

Dez anos passados, alguns estudos indicam que há quem já esteja a abandonar a rede social mais "povoada" do mundo e há ainda quem defenda que o facebook terá mesmo os dias contados. Ainda assim, e por experiência pessoal, vejo cada vez gente mais nova - crianças com menos dos 13 anos necessários - a inscrever-se na rede e sem qualquer controlo com o que publicam, mas isso são outras histórias.

Uma decada depois está toda a gente muito preocupada e atenciosa com aquilo que o facebook é e representa. Mas o que somos nós? O que fez de nós o facebook? 

A rede social cativou-nos de tal forma que afundou todos os outros concorrentes e aumentou ainda mais a nossa sede por reconhecimento, tornamo-nos uma espécie de "prostitutos sociais", vendemos as nossas fotos, pensamentos e ideias por gostos e partilhas e todo esse conceito transcende às demais redes, onde aquilo que der nós vamos mostrar e partilhar a troco de um gosto, um comentário, um novo seguidor. 

O facebook deu-nos uma segunda vida, onde nós sendo a mesma pessoa podemos ser outra. Eu tenho quase 1000 amigos no facebook e não os tenho na vida real (pelo menos não os vejo tanto quanto na tela do meu computador). Mas estes amigos são descartáveis, a qualquer momento posso passar a ter 100 amigos, 10 amigos, 1 amigo, mas a quem interessa isso? 1000 amigos dá certamente mais gostos que 100 amigos. Todos queremos mais reconhecimento e visibilidade, todos queremos a oportunidade de fazer algo diferente do que fazemos na rua e assim a nossa "segunda vida" é, muitas vezes mais importante que a primeira. Por isso, vive-se cada vez mais dentro da rede. E não só do facebook falo, até porque ao escrever este post tenho a expectativa que alguém vai ler, que alguém vai comentar, que alguém vai gostar e partilhar. Tenho expectativa que me traga algum seguidor novo. Mas também quem trabalha quer reconhecimento, e não sendo isto um trabalho quero à mesma. É vender o meu pensamento a troco de leitores mas com o mesmo dinheiro nos bolsos. É ser eu mesmo mas diferente, já que eu só tenho uma forma e através desta leitura cada um imagina-me à sua maneira, mas acabam por me conhecer um pouco melhor de quem conhece apenas a minha forma. É uma forma de prostituição, uma prostituição social!

Algures por aí alguém escreveu e eu concordo: "criei um facebook porque não fazia nada. Hoje não faço nada, porque criei um facebook".