O beijo (Inspira-me #4)
Não havia ninguém, ou talvez não me recorde de ver pessoas, eras só tu naquele dia. Caminhamos sem um destino de antemão, a minha timidez toldava-me as decisões, mas a ti nada parecia perturbar-te, emanavas confiança enquanto eu por dentro tremia. Acabamos sentados perdidos algures entre o verde do chão e o castanho das folhas caídas, com uma réstia do rio (o Minho) a desenhar-se entre margens. Falamos sobre tudo, sobre quem teríamos sido, sobre quem queriamos ser e falamos e falamos até que suavemente - como a câmara lenta - os nossos lábios se encontraram. Talvez por não acreditares numa relação longa o beijo não foi sôfrego, mas tinha paixão, sentimento, vontade. O que pareceram poucos minutos desenhou-se durante horas. Os nossos lábios dançavam juntos ao som de uma música só nossa. E não eram doces, não eram frescos ou suaves, eram apenas perfeitos porque eram teus. Ali, naquela muralha (de Valença) onde se travaram guerras, travei eu batalhas contra mim mesmo enquanto tu parecias divertida. Ali, onde nos defendemos dos invasores espanhóis, conquistavas o pouco que restava de mim já sem defesas. Quando nos despedimos foi com um rápido beijo de fugida, mas já nada podia fazer esquecer aquele momento e fui embora com um sorriso parvo na cara, sem me cruzar com ninguém pela rua, ou talvez não me recorde de ver pessoas, eras só tu naquele dia...