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Perhaps não são ervilhas!

Se tudo na vida fosse perfeito não havia talvez. E perhaps eram ervilhas...

A crise declarou-se anti-praxe!

por António, em 27.01.14

Nos próximos dias será, certamente, realizado um tribunal de praxe. Convocados estamos todos, menos a crise, essa declarou-se anti-praxe!

Estava a evitar tocar no assunto que está na ordem do dia: a praxe, quero eu dizer, a anti-praxe. A comunicação social infestou-se de críticas severas - e muitas vezes infundadas - a este tema. Escreveram-se crónicas, reportagens, críticas e desconfio que romances, é um nicho de mercado descoberto com séculos de atraso, mas espremido até à exaustão.

Não me cabe criticar a posição de cada um no que diz respeito à sua concordância, ou não, com a prática praxista, mas não consigo concordar que se generalize a praxe com tão depreciativa adjetivação. Há, com toda a certeza, establecimentos de ensino superior onde a praxe é difícil e abusiva, mas pese-se que a praxe não é feita apenas de trajados, é feita de caloiros. Se há praxe é porque há caloiros que se dispõe a ser praxados, ninguém os arrasta até à praxe e há - pelo menos onde eu estudei havia - documentos que se podem entregar à comissão de praxe (ou orgão semelhante) onde o caloiro se declara anti-praxe!

Apesar do assunto ocupar a maior parte do atual horário nobre da informação, ainda não vi quem procurasse a opinião de quem gosta da praxe, de quem vive a praxe. A televisão (especialmente) procura falar apenas com quem não gostou da praxe, mas cuja cobardia se superioriorizou ao carácter, alimentando assim dúbias expressões como comparar a praxe a "sociedades secretas", esquecendo-se que ela é regida por um livro de estritas regras disponível à comunidade escolar, ao contrário das ditas "sociedades secretas" em que os seus rituais são praticados sem qualquer transparência. Vi também, no DN, a exemplo de vários, uma pessoa que se queixa que chegava a casa cheia de hematomas de fazer granadas, suponho que esteja a tentar dizer que é uma menina muito frágil, caso contrário a culpa é apenas e só de quem faz a granada. A mesma pessoa confessa ainda que entrou na praxe porque - e repare-se - "era muito timidita, aquele tipo de miúda que fez o secundário com 18 e tinha a ideia de que haveria vantagens do ponto de vista académico, supostamente os padrinhos - cada caloiro tem um padrinho ou uma madrinha - facilitavam apontamentos e testes anteriores e se não entrássemos na praxe não teríamos acesso a essas coisas (a ironia é que depois percebi que estava tudo nos computadores da escola). Decidi por isso não me declarar contra", que esmiuçando fica algo de "eu fiz o secundário com 18 valores, sou uma frustrada porque entrei em enfermagem, mas tenho de ter mais facilmente acesso a apontamentos porque sou melhor que voces todos", confirmando a minha tese de que só foram entrevistados cobardes de fraco carácter.

Se quiserem ver o outro lado da coisa, o ano de caloiro foi o melhor ano da minha vida académica, conheci das melhores pessoas e vivi como poucos a praxe, fui às minhas praxes, fui a praxes de outros, baixei a cabeça, corri, rebolei, cantei/gritei, saltei, mas nunca vi a minha integridade física posta em causa, nunca fui (nem vi quem fosse) humilhado, ensinaram-me a praxar e sobretudo a respeitar o traje e ao fim de cada praxe saí de cabeça levantada com aqueles que de entre caloiros e doutores, mais do que isso eram amigos!

Em jeitos de finalizar - que já vou alongado nas horas - se alguma crítica tenho realmente a fazer é a moralidade da televisão em atacar a praxe, é que comparado com a minha praxe a programação das televisões portuguesas é tortura. Mas como em tudo que de mau existe há uma outra perspectiva, consigo também ver uma vantagem, uma única vantagem: é que a crise, o desemprego, troika, défices, referendos e afins devem ter acabado porque não se soube mais deles, na volta declararam-se anti-praxe!

Não sei em que dia decorrerá o tribunal, mas aponta-se como acusados, a comunicação social por passar ao lado da ética, o governo na pessoa de Nuno Crato, porque estando já proíbidas as praxes dentro dos recintos escolares não vejo que mais podem fazer, a não ser meter-se ao barulho só para ficar bem na fotografia, ao restante governo porque sim, e a todos os que me estou a esquecer, também pelas devidas razões. Pede-se então às mesas de acusação e defesa que sejam "mãos largas" no número de pauladas  e restantes sanções, apelando-se por fim à mesa dos jurados para que as apliquem com afinco.

5 comentários

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    De António a 29.01.2014 às 01:07

    Enquanto estas mortes venderem vão massacrar o assunto... Depois disto ou aparecem outras mortes ou voltamos à crise, desemprego, PPP.... Livrem-nos é de casas dos segredos e festinhas ao domingo à tarde!
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    De Joana Pires a 30.01.2014 às 13:58

    Podiam arranjar assuntos tão interessantes em vez de irem buscar notícias sobre as quais nem sabem nada. Impressionante. Este jornalismo está mesmo a precisar de pessoas como nós! Ahah :)
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    De António a 30.01.2014 às 15:41

    Proponho-me para diretor ou CEO de um grupo de comunicação social!!! :D
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    De Joana Pires a 30.01.2014 às 16:26

    Quando lá estiveres arranja lugar para mim. Ahah
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